Cuidado com o overtraining
Por Nuno Cobra (janeiro/2007)
A maioria das pessoas desconhece certos detalhes acerca da atividade física que são extremamente importantes, eu diria até essenciais.
Infelizmente existe uma mentalidade ainda muito difundida nos dias atuais, de que quanto mais nos cansarmos, mas exigirmos do nosso corpo e quanto mais forte o exercício, mais resultados obteremos.
Esse é um tipo de cultura bastante disseminado nas academias, resquícios dos primórdios da educação física no Brasil. É bom lembrar que a história da atividade física no Brasil é de origem militar, tendo influência do militarismo alemão no século 19 e, a partir de 1907, com a missão militar francesa e a fundação do primeiro estabelecimento especializado no ensino da educação física, a escola da Polícia Militar de São Paulo, surge uma preocupação um pouco mais humanista e direcionada à prática desportiva, mesmo que ainda preponderantemente, militarista.
Quem estudou até a década de 70, ainda deve se lembrar dos procedimentos militares, como fazer fila e cobrir distância, ou mesmo do estilo de professor bravo e enérgico, que gritava muito e exigia respeito.
Infelizmente esta atividade física militar e sadomasoquista ainda é estimulada intensamente na maioria das academias, que, buscando resultados rápidos, põe em risco o bem-estar e saúde dos seus alunos.
É bom ter consciência de que o excesso de treinamento pode desencadear:
:: depressões graves,
:: síndrome do pânico e
:: baixa do sistema imunológico, deixando-nos suscetíveis a diversas doenças oportunistas graves.
Portanto, não se trata apenas do simples risco de lesões. O overtraining (excesso de treinamento) tem um impacto negativo muito mais complexo em nosso organismo.
Uma atividade física muito intensa, só é justificada em esportistas de competição, que, por força da profissão, precisam tornar-se altamente resistentes e velozes. Mesmo neste caso, os cuidados com o overtraining são preocupação constante. De qualquer maneira o preço a se pagar por essa carga enorme de atividade corporal aparece depois de certo tempo em lesões graves e diversos tipos de incapacitações.
Quem conhece atletas profissionais aposentados sabe o drama que pode se tornar envelhecer com limitações físicas, dores e lesões crônicas.
Uma boa maneira de se precaver contra o overtraining é simplesmente observar se a atividade física que você faz está lhe deixando:
:: com mais energia,
:: mais bem-humorado e
:: mais bem-disposto de modo geral.
Caso você venha de um longo período de inatividade, se após duas semanas de atividade você não se sentir bem e com energia, diminua o ritmo e a carga do treinamento.
O grande perigo é que muitas vezes as pessoas ficam dez, 20 anos sedentárias e querem adquirir o corpo ideal o mais rápido possível, treinam de forma excessiva, se machucam e acabam desistindo.
Uma regra básica de uma atividade física saudável é: “nunca faça nada além da sua capacidade física” ou “nunca sinta mal-estar com o seu treinamento.”
O ideal não é ultrapassar o seu limite, mas sim, empurrálo devagarzinho, aumentá-lo aos poucos, com tempo e treinamento adequado.
Já conheci casos de obsessão física que resultaram em overtraining grave, que incapacitou certos esportistas compulsivos durante dois anos ou mais, devido a uma depressão severa.
Em relação à atividade aeróbica e ao treinamento físico, de modo geral, um trabalho cuidadoso e suave resulta em um ganho muito maior tanto a médio como a longo prazo.
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